Powered By Blogger

domingo, 14 de agosto de 2011






O Pai



Terra de semente inculta e bravia,

terra onde não há esteiros ou caminhos
sob o sol minha vida se alonga e estremece.

Pai, nada podem teus olhos doces,

como nada puderam as estrelas que me abrasam os olhos e as faces.

Escureceu-me a vista o mal de amor

e na doce fonte do meu sonho outra fonte tremida se reflecte.

Depois...

Pergunta a Deus porque me deram o que me deram



e porque depois conheci a solidão do céu e da terra.

Olha, minha juventude foi um puro botão

que ficou por rebentar e perde a sua doçura de seiva e de sangue.

O sol que cai e cai eternamente cansou-se de a beijar...

E o outono.

Pai, nada podem teus olhos doces.

Escutarei de noite as tuas palavras: ... menino, meu menino...

E na noite imensa com as feridas de ambos seguirei.




Pablo Neruda, in "Crepusculário"

Tradução de Rui Lage

Nenhum comentário:

Postar um comentário